Há pouco mais de dois mil anos, a então chamada Rota da Seda estabeleceu uma ponte extraordinária por estradas que desciam montanhas, atravessavam estepes e convergiam em oásis dos mais diversos, que se estendiam da capital imperial Chang’an, na China, cruzavam as paisagens da Antióquia, na Síria e Constantinopla, e desembocavam nos portões da Europa — e dali, aos reinos hispânicos do século XV. Caravanas de mercadores, soldados e estudiosos viajaram do Oriente ao Ocidente e vice-versa e povoaram cidades e pradarias.
A história da Ásia Central é ligada a duas questões fundamentais intimamente entrelaçadas. Por um lado, o lendário percurso comercial e sua subsequente troca entre mundos distintos. Por outro, todos os tipos de atividades que se possibilitaram por um ambiente natural bastante específico e que determinaram, em grande medida, cada momento de sua evolução histórica.
Em geral, definir a Ásia Central como região estabelecida é uma das tarefas mais árduas dentre os estudiosos. Sua dinâmica cultural instaurada ao longo do tempo, por meio de pontes, encruzilhadas e encontros entre as mais diferentes civilizações, torna difícil delinear suas fronteiras. Diante disso, o professor Sebastián Stride explica que o único consenso entre os especialistas decorre de uma lógica de exclusão — a Ásia Central é tudo aquilo que não abrange a China, a Índia, o Sudeste Asiático, a Europa ou o Oriente Médio.
Como afirma Stride: “Essa definição é muito expressiva porque, a despeito do que sugere seu nome, a Ásia Central jamais foi centro de lugar nenhum. Uma terra de ninguém entre ‘civilizações’, que muitos atlas retratam apenas como Eurásia. Mapas regionais, no entanto, costumam seccioná-la, ao completar as lacunas conforme a perspectiva dos países maiores ou das civilizações — China, Índia, Rússia e Oriente Médio”.