Israel sempre buscou ter alcance político na América Latina e ampliar relações para conquistar apoio de seus países em fóruns internacionais, especialmente a votação nas Nações Unidas ou no Conselho de Segurança, além da representação política e diplomática por meio da abertura de embaixadas e escritórios de Israel nesses países.
O continente que se divide em América Central, América do Sul e Caribe e constitui mais de 8% do PIB global conta com um membro no BRICS, o Brasil, considerado um dos países mais desenvolvidos economicamente da região.
O início da relação se deu quando 13 países latino-americanos votaram a favor da resolução de partição entre 20 países da época, com seis abstenções e o voto contrário de Cuba.
Depois da guerra de 1967, 20 países latino-americanos submeteram às Nações Unidas um projeto para a retirada de Israel das terras ocupadas nos confrontos e o fim do estado de guerra, em respeito à coexistência e à paz, mas Israel rejeitou a proposta categoricamente. A devolução só ocorreria com a Resolução 242 da ONU.
A América Latina esteve distante de conflitos globais como a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, as disputas entre Rússia e China ou entre China e América, e também longe da questão nuclear iraniana Porém, durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil foi um dos primeiros produtores de alimentos para os os exércitos dos grandes países envolvidos. A posição latino-americana mudou, tendendo em grande parte a favor da causa palestina depois que a região foi afetada pelo Movimento dos Não-Alinhados, com o surgimento de 15 países das ilhas caribenhas, além de Peru, Chile, Argentina, Nicarágua e Cuba.
Israel tentou repetidamente entrar na América Latina através do Brasil ou Argentina, mas não obteve o sucesso pretendido. Já com ajuda dos Estados Unidos conseguiu em grande medida estender sua influência sobre a América Central, como El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua. A corrente evangélica extremista cresceu nesses países carregando seu alinhamento com Israel em todas as suas visões.
A ascensão do atual presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, constituiu um impulso político e moral para Netanyahu pessoalmente e para Israel em geral. O primeiro-ministro israelense fez quatro visitas oficiais ao Brasil, México e Argentina de 2017 até 2020.
Acrescente a essa aproximação o fato de que a comunidade judaica na América Latina, em cerca de 450 a 500 mil pessoas no conjunto, tem papel ativo no fortalecimento das relações com Israel, contando com investimentos e empresas na região e o apoio financeiro, político e de segurança de Israel.
Os árabes também são em grande número bem-sucedidos, com personalidades conhecidas e influentes, como o ex-presidente brasileiro Michel Temer e o atual presidente de El Salvador, Nayib Bukele e muitos outros generais do exército, ministros, comerciantes, donos de negócios e patrimônio.
Segundo artigo do Mohsen Mohamed Saleh, no Alzaytouna:
algumas estimativas indicam que existem cerca de 600 milionários de origem palestina no Brasil e no Chile.
Mas as comunidades árabes e a comunidade palestina em particular são mais desarticuladas entre si e com os países árabes, representando menor força política conjunta.
Isso não quer dizer que os árabes da América Latina tenham pouca expressão. Eles são fortes e influentes nas sociedades latinoamericanas! Mas a falta de articulação em torno da causa palestina, especialmente, não afeta tomadores de decisão como poderia.
Falta um projeto palestino-palestino ou árabe-palestino que envolva essas comunidades.
A força de Israel na região latinoamericana resulta dos grupos de pressão judaicos, do aumento da porcentagem de evangélicos pró-Israel e dos extremistas de direita e da ausência de um projeto comum árabe-palestino.
Por outro lado, na América Latina aumentaram os movimentos de esquerda e estudantil, sindicatos gerais e organizações que defendem a Palestina nos fóruns internacionais e apóiam a decisão de estabelecer um Estado palestino nas fronteiras de 1967. As últimas décadas testemunharam avanços pró-Palestina nas posições dos ex-presidentes do Brasil, Lula da Silva e Dilma Rousseff; do Paraguai, Fernando Lugo; do Equador, Rafael Correa; da Colômbia, Ernesto Samper; do Uruguai, Pepe Mujica; e de figuras como o escritor Milton Hatoum, o cartunista Carlos Latuff, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, e o líder estudantil Edmilson Costa.
Essas lideranças assumiram uma posição valiosa quando exigiram, em julho de 2020, a imposição de sanções a Israel devido ao apartheid, e o plano de anexar as terras da Cisjordânia como parte do malfadado Acordo do Século anunciado por Donal Trump.
O documento produzido por Walid Abdul Hay em abril de 2021, do Centro de Estudos & Consultorias AL-Zaitouna, que o Monitor do Oriente Médio e a MEMO Editora apresentam em português explica as relações de Israel com a América Latina com um resumo histórico das fases de reconhecimento do Estado de Israel, o período de transições no continente e os reflexos na região das normalizações entre países do mundo árabe e Israel. Sobre o futuro dessas relações, o autor considera fatores como as forças políticas rivais na América Latina, aspectos econômicos e militares. Finalmente, aborda o papel das comunidades judaica e árabe no desenvolvimento ou declínio desta relação.